É inútil dizer que Zenão repete, ou que desautoriza, Platão e Aristóteles. Ele, que recebia quando jovem de seu pai os livros atenienses, é um típico estudante de Filosofia, e como tal um analista histórico e sintetizador teórico. [10]
Em Academica I, na versão construída por Cicero, o grande autor romano Varro está fazendo a descrição da fundação filosófica de Zenão:
[35] Já Polêmon havia tido alunos diligentes em Zenão e Arcesilaos; porém Zenão, que precedia a Arcesilaos em idade, sendo um dialético bem mais sutil e um pensador refinado, instituiu uma reforma no sistema daquela escola.
Zeno and Arcesilas had been diligent attenders on Polemo; but Zeno, who preceded Arcesilas in point of time, and argued with more subtilty, and was a man of the greatest acuteness, attempted to correct the system of that school.
Iam Polemonem audiverant assidue Zeno et Arcesilas; sed Zeno, cum Arcesilam anteiret aetate valdeque subtiliter dissereret et peracute moveretur, corrigere conatus est disciplinam.
Zenão teria instituído uma reforma no sistema filosófico da academia platônica, conforme o que ele herdara de Polêmon. Esta seria a recordação de Cicero, para o que teriam sido os ensinamentos de Antiochus aos jovens romanos Varro, Cicero, etc, quando estudantes de filosofia grega.
Sextos Empiricos sugere que a caracterização da primeira academia (no período que se segue a partir de Platão) feita por Antiochos, seria uma versão estóica da herança platônica, não simplesmente um “retorno” de Antiochos à dogmata da primeira academia, depois de sua polêmica célebre com Philo de Larissa. Philo havia se convertido à versão socrática e ceticista da segunda academia, adotada por Arcesilaos quando se tornara Escolarca. [11]
A Filosofia Estóica é fundada pelo Zenão de Citium (cidade grego-fenícia na atual Chipre) próximo a 302 ou 301 a.C., em Atenas [12], com esta revisão da tradição jônica, platônica, aristotélica, na forma de um constructo unificado, atraente para os alunos. Para a pedagogia da nova Escola, as partes solidárias são desmontadas como séries analíticas separadas. A divisão tríplice em Lógica, Física, Ética, presente em Xenocrates, é admitida, mas ela supõe agora um poliedro, o qual, sendo observado por vários ângulos, permite ver um mesmo núcleo, aceso, irradiante, ao centro...
A Filosofia é composta por proposições iniciais, apresentadas de modo esquemático: O sentido de uma escola de Filosofia é a demonstração dessas proposições ao longo do tempo. Este sentido é estranho ao Socrático: não se trata de (se) apresentar proposições que possam ser de imediato comprovadas, nos termos “dialéticos”; ou de se duvidar de imediato das proposições empíricas que se apresentam, no modo cético. A justificativa inicial para as proposições resulta de uma síntese:
1) análises dos materiais históricos, empíricos, de um povo;
2) um sentido intuitivo;
3) e um processo sintético, por direito de inferências.
E o que será a disciplina da Filosofia senão este processo, como uma pauta em três latitudes simultâneas?
[10] Em Diog. Laércios:
[31] ... Em sua obra Homônimos, Demétrios de Magnesia relata que Mnaseas, o pai de Zênon, sendo um mercador, vinha frequentemente a Atenas, e de lá levava muitos livros socráticos para seu filho ainda menino. Por isso, antes mesmo de deixar sua pátria, já tinha uma formação filosófica.
[32] Sendo assim, chegando a Atenas, encontrou-se com Crates. Parece ainda, segundo Demétrios, que ele já havia definido o fim supremo, enquanto os outros filósofos divergiam em suas opiniões. [Kury, VII]
[11] Em Academica I, a versão de Antiochos sobre a primeira academia está na numeração de origem [15-32], sobre o Liceu em [33-35], sendo a doutrina de Zenão apresentada em [35-42], caps. X e XI. Rackham esclarece que Cicero está escrevendo com os textos de Antiochus à sua frente. Para efeito dramático ele apresenta seus discursos, de Varro, de Lucullus, como se fossem memórias de diálogos com o mestre estóico-platônico Antiochus de Ascalon. Antiochus havia escrito o Sosus, em Alexandria, para contestar seu ex-professor Philo de Larissa. Na versão ceticista Platão, Aristóteles, Estóicos e Epicuristas eram considerados "dogmáticos"... Cicero era seguidor dos Céticos-Socráticos: Arcesilaos, Larissa, Carneádes, Clitomachus.
Em seu Esboços Pirronianos [Outlines of Scepticism, Annas& Barney, Cambridge, 2000, Book I], Sextos Empíricos registra:
[235] ... Antiochus brought the Stoa into the Academy; for he tried to show that stoic beliefs are present in Plato.
[12] Conforme Hicks, a descrição da Galeria Pisianax ou Galeria das Pinturas (Stoâ Poikîle), na praça central de Atenas, corresponde a uma colunata [colonnade], tendo uma parede de fundo com as pinturas de Polygnotos. Era local solene, de valor artístico e histórico. (Os Trinta Tiranos teriam se reunido na Stoa para comandar a execução dos derrotados no conflito com Esparta, e não a execução teria ocorrido ali.) A tradução do termo stoâ para porticus no latim, deu origem à tradução “porch” no inglês, e ao uso de “pórtico”, no português e no espanhol.